“Não me sinto bem comigo mesma.”
“Ninguém se importa comigo.”
“Sou horrível.”
“Não faço nada direito.”
“Todos são melhores que eu.”
“Parece que os outros se incomodam com a minha presença.”
“Sinto que minha família, escola ou igreja, seriam melhores sem mim”.
Se uma menina descrever esses sentimentos a uma psicóloga, o que provavelmente ouvirá? “Sua autoestima é muito baixa. Você precisa trabalhar nisso”. Autoestima é um conceito comum em nossos dias, até mesmo dentro das igrejas. Mas será que este é o diagnóstico correto? Essa menina precisa aprender a se valorizar mais? Já li e ouvi muito isso e até já acreditei nisso. Porém, o que Deus tem a dizer sobre essas teorias? Muitas vezes aceitamos o que o mundo diz, mas precisamos voltar nossas mentes para a Bíblia e renovar nosso modo de pensar segundo o que Ele diz.
O diagnóstico
“O seu problema é que você não se ama o suficiente.” Existe base bíblica para sustentar esse argumento? Não, o que existe é a instrução de termos um conceito equilibrado de nós mesmos, de acordo com a fé (conjunto de doutrinas) que Ele nos concedeu (Rm 12.3). Porém, não há na Bíblia versículos que nos direcionem para a busca do amor próprio. Deus ordena o amor a Ele e aos outros e não a nós mesmas. O fato é que a Bíblia ensina que já amamos a nós mesmas. O que precisamos aprender, na verdade, é a amar a Deus com todo o nosso ser e amar aos outros assim como já sabemos naturalmente amar a nós mesmas (Mt 22.37-39, Ef 5.28-30). Deus nos exorta a cuidar dos interesses dos outros além dos nossos e a colocar os outros acima de nós mesmas (Fp 2.4-5) Isso não se assemelha em nada ao ensino da autoestima. São opostos. O diagnóstico de Deus é: “O seu problema é que você se ama demais, mais do que os outros e mais do que a Mim”.
Os defensores da autoestima também dirão: “Você não é tão ruim quanto pensa. Valorize-se. Coloque seu foco nos seus pontos positivos.” Deus, porém, vai à direção oposta e declara que, na verdade, o coração do ser humano é inclinado sempre e somente para o mal (Gn 6.5; Rm 3.10-18). Somos, por natureza, distantes de Deus e cheias de pecado. Como poderíamos ser otimistas e realistas sobre nosso coração ao mesmo tempo? Como poderíamos encontrar esperança em nós mesmas? Os defensores cristãos da autoestima ainda tentarão arriscar: “Mas você é filha de Deus, criada e escolhida por Ele, feita à imagem dEle, salva por Cristo! Deus te valoriza! Você precisa se valorizar também!” Porém, o amor de Deus por nós não existe por sermos amáveis. O perdão, a salvação e a transformação que Ele nos oferece não são por ter visto em nós algo de bom; pelo contrário. A morte de Jesus na cruz não demonstra o quanto somos valiosos para Deus, mas como são graves os nossos pecados e como é grande a Sua misericórdia por nós. Não temos nenhum mérito por nenhuma coisa boa e nenhuma esperança em nós mesmas – e não devemos buscar isso (Ef 2.8,9). O que Deus nos diz a respeito de nós é diferente do que a teoria da autoestima diz. “Você não é tão boa quanto pensa. Arrependa-se. Coloque seu foco em Cristo.”
Mudando o foco
O que está, então, por trás, da suposta “baixa autoestima”? Orgulho, egoísmo, ingratidão, descontentamento, foco errado... Uma pessoa com “baixa autoestima” pode ser, na verdade, um orgulhoso que não recebeu aplausos. Como assim? Por exemplo, uma menina orgulhosa pode ficar muito triste e frustrada por não ser tão inteligente ou tão bonita quanto aquela outra. O problema não é que ela precisa valorizar mais a própria inteligência e beleza. O problema é que ela precisa se arrepender de seu orgulho, de seu foco em si mesma e de achar que merece mais (mais inteligência, mais beleza, mais elogios ou mais qualquer outra coisa) do que tem. Precisa aprender a ser grata a Deus e a colocar seu foco (sua alegria, satisfação, identidade, segurança) nEle e não mais em si mesma.
O irônico é que o que muitos chamam de “baixa autoestima” é, na verdade, uma gigantesca autoestima e uma microscópica estima de Cristo. O que nós precisamos desesperadamente é tirar o nosso foco de nós mesmas e colocar o nosso foco em Cristo. É a Cristo que precisamos estimar, com todo o nosso coração. É para ele que devemos viver, e não mais para nós mesmas, porque “ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Co 5:15).
Devemos nos arrepender dos nossos pecados e da nossa forma errada de pensar, renovar a nossa mente de acordo com o que Ele ensina e buscar mudança baseada em Sua graça (com oração, com Bíblia, com comunhão na Igreja). Deus não rejeita um coração quebrantado e Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar (Sl 51.16-17, 1 Jo 1.9).
O exemplo de Paulo
Talvez, mesmo lendo tudo isso, você pense que não se aplica a você ou que é uma mensagem muito dura para a sua realidade. Muitas vezes pensamos que somos exceção, que ninguém nos entende nem pode nos julgar porque não sabem o que enfrentamos no passado ou no presente. Mas as nossas circunstâncias não podem nos dominar nem determinar como agimos. Nossos sentimentos, palavras e ações vêm de nosso coração, não são produtos de circunstâncias externas. Essas apenas revelam o que já está em nós. Por isso, não temos desculpa.
O apóstolo Paulo é um exemplo de alguém que sofreu demais: foi açoitado, golpeado, apedrejado, encarcerado e abandonado, além de ter enfrentado naufrágios e diversos perigos (2 Co 11.23-27). Porém, será que podemos imaginá-lo sentado cabisbaixo, lamentando por ser rejeitado pelos outros e por sofrer tanto apesar de tentar fazer tudo certo? Podemos imaginá-lo chegando à conclusão de que precisava se valorizar e cuidar mais de si mesmo? Por que não? Por que em meio a tudo isso ele não desanimava??? Ele mesmo responde:
"Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno." (2 Co 4:16-18)
A minha oração é que o nosso foco seja como o de Paulo. Ele amava e valorizava tanto a Cristo que, comparado com Ele, tudo o mais era como esterco (Fp 3.7-9). Afirmou que, para ele, o viver era Cristo (Fp 1.21). Também dizia que não considerava sua vida de valor para si mesmo, só queria obedecer a Deus, viver em Sua vontade (At 20.24). A graça de Deus bastava para ele (2 Co 12.9-10). Em Deus, Paulo tinha força para viver contente em qualquer situação (Fp 4.10-13). Tudo isso porque ele fixava seus olhos, não em si mesmo nem em suas circunstâncias, mas em Deus e na eternidade. Que esse seja o nosso foco também: não em nós mesmas, mas naquEle em quem temos tudo de que precisamos para a vida e a piedade (2 Pe 1.3).
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